sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Clavículas

Mantenho o meu horizonte ao nível da clavícula. O som passeia por entre os cabelos e o corpo ondula com os sustenidos e os bemóis. É nesta articulada marioneta que me rodeia a base do pescoço que tudo assenta - uma cabeça entre dois ombros, sustentados por dois flexíveis ossos, com tanto de fundamental como de frágil. As clavículas sustentam o peso do mundo, daquele que corre na minha cabeça. Horizonte e raiz, não sabe bem onde pertence, se à terra se ao céu... ou se na ponte entre os dois.
É mesmo isso - é uma ponte. Consigo pensar nesta parte do meu corpo como uma ponte levadiça, esta, que me leva de um ombro ao outro. Se fossem puxadas por fios invisíveis produziriam o mesmo tipo de movimento, descoordenado mas fluído.
Dançantes continuam, neste ritmo descompassado. Sei-o de cor. No entanto, sempre ignorando a mestre cabeça, aquela que coroa o corpo mas a quem teimo recusar a supremacia das vontades.
Por ora, prefiro ficar aqui mesmo ao nível das clavículas. Esta linha do horizonte fica ligeiramente mais perto do coração.

                                             (autor desconhecido)

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